quarta-feira, fevereiro 02, 2005

EIS A QUESTÃO

Saber aonde é que esta cena descarrilou, é que é a questão. Ou talvez não.

No princípio, isto é, mesmo no início da “nacionalidade”, como referem os manuais, éramos um povo tão jeitoso, tão prendado: dávamos grandes coças em mouros e castelhanos; enfunávamos as velas e partíamos rumo ao desconhecido; dominámos milhares, civilizados e “selvagens”, a oriente e a ocidente, com pouco mais de um punhado de homens, contra tudo e contra todos.

Tínhamos atitude, audácia, iniciativa. Acreditar em alguma coisa sempre era melhor do que não acreditar em nada. Por cada desaforo, desonra, aleivosia, injúria ou opróbrio havia mortos e feridos, com assaz sumaridade. A violência era atroz, mas melhor do que brincar aos advogados, melhor do que a ineficácia da justiça actual, melhor do que “cama, comida e roupa lavada” a que chamam “penas pesadas” para os prevaricadores…

Há quem diga que foi o Estado Novo que quebrou a resolução dos portugueses.

Sem dúvida que ajudou, mas a apatia já vinha de trás.

O marasmo começou, na minha douta opinião, a partir do século XVI, mais exactamente com a instituição da “Santa” Inquisição. Foi o primeiro rombo na nau Catrineta, a que se seguiu o trauma do desaparecimento D’el-rei D.Sebastião, o trauma do domínio Castelhano, e de trauma em trauma, veio a perda do Império, a perda do amor-próprio, a crise de identidade, ser ou não ser.

Ora, a questão, a questão está em que é mais do que sabido, que povo desmoralizado, frustrado e fodido, a única coisa que faz, é penetrar ou deixar-se penetrar, pela frente e por trás.

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Fez hoje 97 anos que se deu o infame Regicídeo no Terreiro do Paço.
Em homenajem a SARs, RIP.